Adolescência e Rebeldia

Muitos pais podem associar a adolescência a uma fase muito complexa para a dinâmica familiar.

Especialmente por associarem essa etapa da vida do filho a uma ideia de conturbação da ordem.

Talvez essa impressão venha do período que o próprio adolescente esteja passando: uma transição da infância para a vida adulta.

Neste momento, o adolescente possui uma série de transformações biológicas e emocionais que irão moldar sua identidade.

É nesse momento que traços da personalidade se fortalecem e ele busca garantir seu lugar no mundo.

Nessa busca por marcar o seu espaço e se definir enquanto pessoa e até mesmo descobrir formas de sentir prazer e testar limites, alguns adolescentes podem adquirir novos interesses e comportamentos que podem ser positivos ou negativos.

E quando falamos de interesses e comportamentos, também falamos de drogas.

Por isso, é extremamente importante que os pais estejam atentos aos sinais de mudança e abertos para conversar sobre a prevenção ao uso dessas substâncias.

Afinal, o que é prevenção?

Quando falamos de prevenção, falamos em evitar alguma coisa.

No caso da prevenção às drogas, falamos da prevenção à experimentação de certas substâncias.

Isso porque a maioria das drogas consumidas atualmente possuem uma grande capacidade de causar dependência química ou emocional de seus primeiros usuários.

A nicotina e a cafeína, por exemplo, podem causar dependência química já no seu primeiro uso.

Por isso, nosso objetivo na hora de conversar com um adolescente é evitar que o mesmo entre em contato com essas substâncias.

Precisamos falar sobre Drogas em Casa.

E uma das formas que podemos encontrar para evitar o consumo dessas substâncias é conversando sobre o assunto.

Para que você tenha mais informações sobre o que são drogas e como acontece o seu consumo, caso você não seja usuário de algum tipo, vamos esclarecer para você alguns pontos importantes para começar esse diálogo.

Consumo Recreativo

O consumo recreativo nada mais é do que o uso de alguma substância legal com a finalidade de lazer.

No Brasil, a droga recreativa mais conhecida e autorizada pelos órgãos públicos é o álcool.

Em alguns outros países, outras drogas podem ser liberadas, dependendo dos aspectos sociais de cada região, da cultura de cada povo ou interesses políticos e econômicos envolvidos no consumo.

Dentro do a ideia do consumo recreativo, algumas drogas podem ter o seu consumo restrito a determinados ambientes ou condições.

Um exemplo no Brasil é o uso do cigarro apenas em locais ao ar livre.

Consumo Irrestrito de Medicamentos

Medicamentos prescritos pelo médico também são substâncias que têm a capacidade de alterar o funcionamento do nosso corpo e do cérebro.

O problema é que algumas dessas substâncias, mesmo que legais e de consumo regulamentado por receitas de diversas cores, podem causar dependência química.

O exemplo disso é o uso irrestrito de calmantes em doses maiores do que as prescritas pelo médico.

Existe no Brasil até mesmo o chamado “tráfico de receitas” onde pessoas pagam um valor mensal para profissionais da saúde para prescreverem medicamentos sem necessidade terapêutica.

Além disso, existe a venda ilegal de medicamentos sem receita por vendedores ambulantes, sites ou até mesmo farmácias.

O lado negativo desse consumo, além da dependência, é o aparecimento de efeitos colaterais, além de doenças que atacam principalmente o fígado, o estômago, pâncreas e rins.

Consumo Ilícito

Podemos considerar consumo ilícito o uso de qualquer substância proibida.

Também é considerado o uso ilícito de substância em concentrações não permitidas pela legislação vigente.

Isso significa que utilizar algum medicamento de forma não prescrita por um médico também pode configurar precedente de ilicitude.

No Brasil, o órgão responsável por criar a lista dessas substâncias é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Você pode encontrar a lista completa aqui (https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/svs/1998/prt0344_12_05_1998_rep.html)

Perigos Legais

Segundo a legislação, “consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”.

Ainda segundo a lei nº 11.343 de 2006

Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

I – advertência sobre os efeitos das drogas;

II – prestação de serviços à comunidade;

III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Vale a pena lembrar que quem decide se é uso pessoal ou não é o Juiz e não algum tipo de dispositivo legal.

Ou seja, ter a posse de algum tipo de droga, dependendo do juiz, pode ser considerado tráfico.

Sendo assim, se enquadra no artigo 33 da mesma lei que estabelece a pena de reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

Além disso, vale a pena dizer que a adulteração de medicamentos pode também se enquadrar no artigo 273 do Código Penal Brasileiro.

Portanto, para evitar qualquer tipo de problema legal, é melhor se manter afastado das substâncias proibidas pela portaria 0344 de 1998 da ANVISA.

Mas o que fazer quando o adolescente já usa alguma droga e queremos dar o primeiro passo para a recuperação da dependência?

Bem, continuar com o diálogo aberto e sem julgamentos é essencial.

Mostrar as consequências legais, físicas e sociais é imprescindível para que o mesmo consiga compreender os riscos do uso dessas substâncias.

O mais comum é a dependência química e o crime por tráfico de drogas, mas também podemos elencar:

• A dependência emocional
• Depressão
• Ansiedade
• Psicoses
• O isolamento social
• Risco de overdose
• Doenças Cardíacas
• Doenças Neurológicas
• Doenças Sistêmicas
• Câncer
• Falência múltipla dos órgãos
• Acidentes
• Doenças Transmissíveis por compartilhamento de seringas e outros veículos de uso

Com maior consciência das consequências, podemos trabalhar com um trabalho de redução de danos com nossos filhos, assunto que iremos tratar com maior detalhamento em um outro artigo.

O importante é manter o diálogo aberto e construir uma relação de confiança com o adolescente.

O Diálogo Aberto

Mas como manter o diálogo aberto?

A resposta é mais clara para isso é tentar manter o afastamento emocional da situação, e buscar se manter racional diante da questão das drogas.

Conversar abertamente com seu filho pode ser realmente difícil.

Especialmente quando você tem diversas preocupações a respeito dos riscos do uso, do julgamento social, até mesmo suas próprias expectativas sobre o comportamento do adolescente.

Mas mantendo a conversa franca sobre cada um dos aspectos explicados acima pode facilitar a construção de um relacionamento mais sadio e também abrir a possibilidade do controle.

A possibilidade do controle

O controle do uso de drogas pode ser encarado de diversas formas.

A primeira possibilidade é a prevenção eficaz do uso.

Outra forma de controle também é o consumo monitorado.

A grande realidade é que você não necessariamente passa 24 horas do seu dia com seu filho, isso significa que a possibilidade de faltar uma aula ou mentir sobre onde está e com quem está existe.

Nesse caso, com o diálogo aberto, você pode impor limites que não infrinjam o desejo de experimentação do seu filho e que respeitem o seu espaço.

A maioria dos fumantes começam o consumo por volta dos 14 anos no Brasil.

O consumo de álcool pode começar mais ou menos na mesma idade.

Se, mesmo com toda a informação, seu filho apresentar sintomas do uso de alguma substância, você pode conversar com ele e pedir que o mesmo faça o uso monitorado em sua casa, com a segurança que você possa oferecer.

No caso da prevenção, você pode conseguir informações sinceras sobre as intenções, bem como as amizades que o mesmo tenha.

E com mais informações, melhor você pode incentivar comportamentos positivos e restringir atitudes destrutivas do mesmo.

Mas e se mesmo assim você não conseguir manter o diálogo?

A resposta é buscar um profissional, seja para uma terapia individual com seu filho, com você ou uma terapia familiar, com todos os membros da família.

A ideia de ter um terceiro olhar, neutro e seguro, sobre determinada situação pode estabelecer um vínculo de confiança profundo entre todas as pessoas da família.

Alguns adolescentes usuários de drogas buscam um refúgio emocional na substância, tendo consciência do uso e querem ajuda para pararem de consumir.

Mas a dependência química e emocional pode ser muito grande, e com o diálogo facilitado, vocês podem desenvolver estratégias para amenizar os efeitos das crises de abstinência.

É importante dizer que todo consumo de drogas pode ser revertido e que toda dependência pode ser reabilitada. 

Para isso é necessário suporte familiar e também o acompanhamento médico e psicoterapêutico para a maior eficácia dos tratamentos.

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