Introdução
Antes de começar, vamos deixar claro que estamos falando apenas da gravidez fruto de uma relação sexual consentida, não estamos levando em conta casos de violência contra a mulher como o estupro.
A Gravidez na Adolescência é um assunto delicado para muita gente.
Isso porque, quando vamos falar sobre gestação com adolescentes, precisamos falar sobre a sexualidade.
Para a maioria das famílias, dos pais e responsáveis, falar de sexo ainda é um tabu.
Além disso, o assunto pode ser gatilho para outras pessoas, pois muitas adolescentes já são mães levando em conta o contexto social do Brasil e de outros países em desenvolvimento.
Pensando em conseguir esclarecer para a juventude e levar conscientização e material de conversa para os pais, escrevemos este artigo, onde vamos abordar os principais perigos da gravidez na adolescência.
Vale a pena lembrar que muitos desses problemas que iremos citar, são decorrentes do preconceito social no qual estamos inseridos.
Ter esse tipo de conversa com sua filha ou filho, pode ser um desafio e tanto, mas é um assunto muito importante e que precisa ser falado.
Preconceito e Rejeição Social
Mulheres já sofrem uma pressão muito grande a respeito do seu papel social.
A expectativa da família a respeito do comportamento das meninas começa desde muito cedo nos primeiros sinais da puberdade.
É esperado ouvirmos expressões como “já está virando uma mocinha” antes mesmo da primeira menstruação.
Esse fato não pode ser descartado quando falamos da sexualidade e da gravidez nesse momento tão importante para o desenvolvimento humano, principalmente quando falamos da formação da personalidade de cada um.
Apesar de não ser algo positivo, precisamos admitir que a nossa sociedade ainda mantém o pensamento de que a mulher deve se conservar o máximo possível enquanto o mesmo não é esperado dos homens, mesmo quando levamos em conta aspectos religiosos de diversas crenças.
Logo, um dos maiores perigos da gravidez nessa idade é a rejeição, julgamento das meninas e a condenação de seu comportamento.
Essa rejeição pode causar danos profundos à psique da menina que eventualmente venha a engravidar.
Abandono da Família
Ainda levando em consideração a postura social esperada dessas meninas, além do julgamento na rua, elas ainda podem lidar com o abandono de parentes e dos pais.
Apesar do apoio familiar durante a gravidez ser extremamente importante para garantir a saúde física e mental da mulher, muitas famílias, por diversos e incontáveis motivos, podem reproduzir a rejeição e a condenação social com as meninas, mesmo que amem suas filhas.
Não é incomum, em alguns casos, a gestante ser obrigada a sair de casa pelos próprios pais, por ser considerada vergonha ou mau exemplo.
Abandono Parental
Além do abandono pela família, as meninas ainda podem sofrer o abandono por parte do pai da criança.
Independente da idade do pai, sendo outro adolescente ou um adulto, a leitura social da menina ainda pode repercutir no núcleo familiar do mesmo, que pode forçá-lo a cortar relações com a mãe.
Fora as pressões sociais que o pai pode sofrer, até condenações judiciais, ele ainda pode simplesmente negar a paternidade, obrigando a mulher a comprovar que não está mentindo através de exames de DNA, conseguidos na justiça, assistência social ou pagos de forma particular.
E quando pensamos nesse tipo de abandono, se a mãe ainda foi renegada pela família, ela precisará recorrer a outros meios de se manter durante e após a gestação.
Aborto Ilegal
E toda essa dificuldade que tange muito a questão financeira, pode ser que a mãe, por medo do julgamento social e rejeição da família, companheiros e amigos, opte pelo aborto.
No Brasil, as únicas formas de conseguir fazer um aborto induzido legalmente é caso a mãe seja vítima de violência sexual, se a gestação apresentar riscos para a saúde física da mulher ou caso o feto seja anencefálico.
Mesmo assim, pode ser que a adolescente busque abortar por pressão social, por pressão da família ou por pressão do núcleo familiar do pai.
E nesses casos, o procedimento “padrão” ainda é feito majoritariamente em clínicas clandestinas em lugares escondidos e perigosos, ou na casa de alguém, fora do centro cirúrgico e desacompanhado de uma equipe médica completa.
As principais consequências desse tipo de procedimento são hemorragias, infecções, esterilização e até mesmo violências obstétricas.
Quando o aborto é feito de forma química, ainda existe o perigo de sobrecarga de alguns órgãos, como o fígado e rins, gerando outros problemas para gestante.
Quando o feto não é expelido pelo corpo da mãe e a gestação continua, práticas abortivas podem causar sequelas permanentes na criança que pode nascer.
E quando falamos de aborto voluntário, também devemos considerar toda a estrutura social que a mãe irá carregar por ter feito o aborto.
O preconceito pode ser ainda maior para quem pratica a interrupção da gravidez do que se uma adolescente apenas engravidar de um estupro, por exemplo.
Depressão e Ansiedade
Com todos esses aspectos relacionados à rejeição social, saúde física e segurança financeira, é comum que mães adolescentes sofram com algum tipo de transtorno mental durante a gravidez.
Seja uma depressão, seja algum tipo de ansiedade.
Vale a pena lembrar que nessa época, o cérebro humano está em pleno desenvolvimento, e caso essa condição mental não seja tratada, pode incentivar o aparecimento de traços de personalidade que podem se estabelecer de forma permanente na mulher.
Além disso, devido à alta concentração de hormônios e a imaturidade do cérebro o adolescente é mais suscetível a desenvolver quadros mais graves da depressão do que indivíduos adultos
Logo é importante para a mãe adolescente trabalhar a sua saúde emocional constantemente.
Mesmo com todas as dificuldades, conhecer os próprios limites emocionais e notar as próprias mudanças de comportamento podem auxiliar a passar por essa fase tão delicada que é a gravidez na adolescência.
A Interrupção da Adolescência
Levando em consideração esse papel da adolescência no desenvolvimento humano, também precisamos prestar atenção nos traços referentes à vida nessa idade.
O primeiro ponto é que a menina deixa de ser adolescente para se tornar mãe.
Isso significa que a jovem terá que escolher entre a experimentação tão característica dessa idade e as responsabilidades da maternidade.
Não é incomum que os avós desempenhem um papel fundamental no apoio dessa jovem mãe, especialmente em famílias mais esclarecidas a respeito do assunto.
Infelizmente, muitas famílias não oferecem esse suporte, levando a mãe a abandonar as atividades escolares, buscar um trabalho muitas vezes sem seguridade social e direitos trabalhistas.
Por isso, é extremamente importante que os pais façam todo um esforço na prevenção da gravidez na adolescência, através da conscientização e educação sexual de seus filhos.
Engravidei. E agora?
É importante para você que é uma adolescente grávida compreender os riscos dessa gravidez.
Se preparar emocionalmente para todos esses perigos pode ajudar você a lidar melhor com algum tipo de rejeição ou sentimento negativo durante a gestação e auxiliar a levar uma vida consciente do seu processo.
É importante deixar claro que a gravidez na adolescência também pode ser um momento de muita felicidade para você e até mesmo para sua família.
Caso esse seja seu caso, começar a planejar os próximos passos na sua independência financeira, buscar auxílio do pai da criança, consultar um advogado e o médico são atitudes que garantem sua sensação de segurança para prosseguir.
Além disso, você também pode buscar auxílio psicológico, para lidar com esse possível momento de abandono da adolescência de forma tão antecipada.
A terapia, além de te dar maior autoconhecimento, também pode te auxiliar no processo da aquisição da sua autonomia facilitando sua emancipação ou estabelecendo uma melhor relação com todos os núcleos sociais nos quais está envolvido, como família ou escola.
Se você precisar de ajuda, converse com a gente, estaremos aqui para cuidar de você nesse momento tão complexo e difícil.
